terça-feira, 19 de março de 2013

porque a televisão poupa o pensar

um vídeo de rui antónio aqui

É NO TEU CAIXÃO



O VIEGAS É PIROSO.

E NÃO MOSTRAS-TE AS MAMAS?


A DIGNIDADE NÃO TEM PREÇO


VAI SER SÓ LEITÃO


QUANDO É QUE FOI E PARA QUEM?


é altura de os tratar pelo seu devido nome


isto não é incapacidade
isto não é incompetência
isto não é falta de coerência
isto não é falta de bom senso

nenhum deles anda a fazer de conta
que não sabe o que está realmente a fazer

é altura de os tratar pelo seu devido nome

banqueiros presidentes ministros
fascistas partidos
não são mais do que inimigos
e têm de ser tratados como tal

devemos perdoar a arrogância?
dever não devemos
mas perdoar perdoamos

quinta-feira, 14 de março de 2013

ARROMBEM-SE ESSES PORTÕES DERRUBEM-SE ESSAS MURALHAS

(para o Pedro Afonso, para o Miguel Godinho)



na sociedade mais desenvolvida de sempre
no tempo da tecnologia mais capaz
nas forjas da indústria mais potente
há pessoas que passam fome
e toneladas de comida são jogadas fora

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

os mais sofisticados da história
os que construíram os prédios mais altos
albergues da mais fétida glória
deixam na fria noite capitalista
alimentados a sopinha caridosa
enrolados em cartões como presentes
milhões de gente que morre
à porta de casas apodrecendo

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

senhores que pregam a paz e a compaixão
supostamente espalham a palavra da bondade
nos seus palácios seculares já têm o cu quadrado
de tão sentados nos seus tronos dourados
abominam perversos na sua castidade

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

a culpa nunca é deste governo
é sempre do outro
é sempre do burro do povo
e esses senhores do parlamento
fazem reuniões à porta fechada
escolhem os mais belos orçamentos
inventam fantásticos investimentos
plantam mais uma fértil estrada
para que passe mais depressa
a miséria que para nós têm guardada

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

depois dos barões da droga
no distante terceiro mundo
temos também barões da banca
louvando o desastre especulativo
existem muitos e gordos sacanas
dizendo que o pobre é preciso
para alimentar o podre do vício
à moda do frankofurto
salsicha no lugar de chouriço

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

bem sentadas no circo democrático
as esquerdas doutoradas
votam contra a maioria
legitimam a grande farsa
piscam o olho à direita
já a pensar nas autárquicas
oposição que se opõe
não serve interesses partidários
oposição que se opõe
não vai p’ra cama com eles
negociar as migalhas

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

esta é a minha justiça
carrego a arma da palavra

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

quarta-feira, 13 de março de 2013

PAPAS E PAPISTAS:


P’RÓ CARALHO!

Caetano/Gilberto, "HAITI"


isto sim é que é um conclave


o primeiro-ministro diz que ideal era baixar os salários
e não estava a falar dos seus coleguinhas nem dos deputados
nem dos secretários de estado nem dos assessores
nem consultores nem presidentes de conselhos administrativos

estava a falar de homens que mal pagam a sua vida

o presidente da república explica-se no seu silêncio
para não interferir na vida democrática do país
entenda-se que vida democrática têm
seus afilhados neste país veja-se
quantos negócios estão a florir

a arrogância não conhece limites

não é com grândolas que se resolvem as coisas
se os sem-abrigo aguentam muitos mais hão-de aguentar
dizem mamões de papo cheio do alto dos seus milhões

isto sim é que é um conclave
chaminés a mandar fumo o dia inteiro
na televisão notícias todas em estrangeiro

e as manifestações oh as manifestações
quando será que perdem o respeito

segunda-feira, 11 de março de 2013

rep #4


criam‑se ícones inventam‑se verdades
a vida toda num teatro de vaidades
e a malta assiste do seu pódio material
a vã conquista do estado social

aplaude a música ritmo de pop chula
alça o alforge que te fica bem ò mula
não há tempo para ser feliz agora
vamos no meio duma crise redentora

na liberdade recusar não é direito
se queres uma vida compra logo tudo feito
este é o momento da grande decisão
escolhe o amor ou liga a televisão

tá tudo escrito no cimento da cidade
só com dinheiro se promove a igualdade
tá tudo dito no poder instituído
democracia calça o capitalismo

olhas p’ró lado com os bolsos a arder
és o trabalho ou o nada p’ra dizer
lá no fundo tudo aquilo que tu crês
é a propaganda do sistema que te fez

não sentes porque não há nada a sentir
é o mercado que te está a consumir
enquanto forjas a tua dura felicidade
és massacrado em nome d’austeridade

tudo à minha volta me diz que estou errado
é da escola à igreja é da família ao estado

tudo à minha volta me quer ver enterrado
e eu quero que se foda o pensamento moderado

não à hipocrisia não à reestruturação
o crime do poder não pode ter perdão
o sistema político tem que ser esmagado
e não é com metáforas que se chega a algum lado

o cínico discurso do circo parlamentar
é a cruel ilusão de quem te quer a ressacar
não importa quem é nem sequer donde vem
essa canalha votada não interessa a ninguém

José Mário Branco, "INQUIETAÇÃO"


sábado, 9 de março de 2013

ATÉ QUE SEJAM DESTRUÍDOS


cheiram a pólvora os amplos corredores
as salas com mobília do século dezanove
aqueles átrios de mármore com longas cortinas de fundo
ocultando os emblemas das empresas
atrás dos símbolos nacionais ecoa
o cheiro antigo do sangue

andam bestas à solta que vestem armani
quando falam de sacrifício falam de deus
quando falam da miséria falam de darwin
e o esterco noticiário é um gás mostarda
que me põe a vomitar ao canto da insolvência

o chicote já não estala
temos todos carta de alforria
e seguem homens nas ruas dizendo não aos filhos
e quem ganha é a nestlé que vende muito nestum

peçonha é ao que a vida tresanda
uma montanha de papéis p’ra preencher
onde nos fazem perecer um a um mil a mil
ao frio dos tempos e dos pós modernos

os palácios dos governantes de hoje
são os palácios dos governantes de ontem
e hão-de sempre cheirar a sangue
até que sejam destruídos

sexta-feira, 8 de março de 2013

DEAD KENNEDYS, "California über alles"


-O coração- de Stephen Crane seguido de índios comanches (EUA)


No deserto,
vi uma criatura nua, brutal,
que de cócoras na terra
tinha o seu próprio coração
nas mãos, e comia…
Disse-lhe: «É bom, amigo?»
«É amargo – respondeu ‑,
amargo mas gosto
porque é amargo
e porque é o meu coração»


***

Djá i dju nibá u
i dju nibá i dju nibá u
djá i dju nibá i ná ê nê ná
i djá i naí ni ná
i dju nibá u
i dju nibá i dju nibá u
djá i dju nibá i djá ê nê ná


"AS MAGIAS", poemas mudados para português, Herberto Hélder, Assírio & Alvim, 2010

VOCÊS VOCÊS VOCÊS


vocês têm brutos ordenados
reformas vitalícias belas vivendas belos carros
têm muitos e bons negócios privados
vocês têm bons fatos e relógios dourados
vocês têm o estado
vocês têm a estatística e a televisão
vocês têm sempre maneira de justificar a podridão

vocês têm as polícias e os tribunais
vocês têm filhos com contas em paraísos fiscais
vocês trazem a lei nos bolsos
e fazem-nos viver com meia-dúzia de trocos
vocês querem refundar a constituição
para foder legalmente o cidadão

vocês vão para o dubai e p’ró rio de janeiro
fazer o negócio que é do interesse nacional
são as nossas mais valias o investimento musculado
levantar a economia na liberdade do mercado
mas o “nós” que vocês dizem tem o prato p´lo cagulo
vocês não têm vergonha vocês só querem dinheiro
vocês são putas que chulam um país inteiro

p’ra vocês isto é igual ao litro é tudo como o outro
abriu no ministério mais uma pasta p´ra mentiroso
vocês têm marcelos p’ra mostrar que isto é normal
vocês têm jotinhas a espumar da boca carreiras
nas colunas do jornal no comentário intelectual
vocês têm sangue nas algibeiras

vocês são a grandessíssima cópula dos partidos
uma procissão dos santos mais vendidos
vocês são os salgados e os belmiros
são toda a gente que aqui anda a pensar se dá p’ra ter filhos

vocês são fachos
são a luz ao fundo da cultura do tacho
vocês são a inversão e a retoma
porque o fmi não é coisa que entre em qualquer cona
vocês são o regresso aos mercados
toda uma gama de produtos reciclados

vocês são os índices dos observatórios dos institutos
das fundações das ajudas dos empréstimos dos prolongamentos
das leituras a tirar das viragens do há coisas
que não podem ser faladas em público

vocês vocês vocês vocês vocês
vocês é que são o défice

quinta-feira, 7 de março de 2013

PEDRAS PAUS PALAVRAS


basta de papas na língua
o que eu quero é tudo a arder
o que eu quero é ver quem vos jogará a mão
no dia em que se acabar a submissão

basta!
eu não vim aqui para ser a parte fraca
porque de onde eu venho não há sim nem não
lutar é a minha condição

pedras paus palavras
homens sem vergonha e sem raça
homens fodidos com o que se passa
homens-fúria que rebentaram a mordaça
homens que só querem ser homens
homens que digam BASTA!

pedras paus palavras
facas na vossa garganta

DEAD KENNEDYS, "ChickenShit Conformist"


terça-feira, 5 de março de 2013

O MEU PAÍS...


o meu país é a lei da aparência
uma simulação ateada nos corredores da política
com a inspecção em dia certificada
pelos agentes do mercado financeiro
neste tempo em que todos os problemas
boiam entre a merda da culpa em que vivemos
acima das nossas possibilidades

o meu país é onde eu nunca andei de submarino
onde as novelas ensinam que há patrões e empregados
para que o cidadão pequenino do meu país perceba
que deus põe sempre a mão por baixo

o meu país é um país moderno
é um país que abraçou a união e o progresso
com vários políticos muito bem sucedidos
e muitos e bons empreendedores activos
e eu tenho muito orgulho no meu país
que é muito livre e democrático

o meu país é o país onde se diz
que há falta de liberdade de expressão
quando se manda calar um criminoso

o meu país é uma caldeirada
leva pouco peixe e muita batata

o meu país é o da turma da gravata
onde há vergonha de cantar o que nos mata

o meu país é onde é necessário
trabalhar mais e receber menos salário
onde é preciso pagar tudo mais caro e aguentar
porque os heróis são aqueles que mais aguentam
em nome do bem e da virtude que é
viver assim num país feito de miséria

o meu país é o país dos quatro efes
fado futebol fátima e que se fodam
aqueles que não aguentam a austeridade boa

o meu país é uma questão de família
o pai a pátria o partido
estás aqui e aguentas porque és preciso
vais trabalhar uma vida e ser enterrado vivo
mas descansa que é o céu e p’rós teus filhos
hão-de vir os filhos deles p´ra lhes mostrar o caminho

o meu país é uma fronteira que arde sem se ver
que é funda e que dói e não se sente
pois p’ra sentir é preciso ser mais que gente
que ganha roubando dizendo que tem de ser

o meu país é o que trago vestido
é o sono que não tenho dormido
a chuva ácida que dissolve as cidades
o flagelo da consolidação a factura
que declara o imposto

o meu país é aquilo que eu não posso ser
porque ser feliz agora seria contrariar
o psi 20 o preço da gasolina e as promoções
com que os jerónimos martins ajudam o pobrezinho
e temos todos que aguentar
qual nau em busca de novos mundos

o meu país é o que exporta as pessoas
que não conseguem pagar a sua vida

o meu país é o do trabalho
onde o povo é mercadoria p’ra vender ao desbarato

o meu país é o da esperança
onde qualquer puta dança ao som do bom dinheiro

o meu país tem uma voz
a que está hoje nas ruas do meu país inteiro

sexta-feira, 1 de março de 2013

aleixo reloaded

Este texto foi escrito em 2010, pouco tempo antes de Faro receber as celebrações oficiais do 10 de Junho. O coelho aqui é outro, mas nem por isso é menos filho-de(ou será da)-puta que o nosso estimado primeiro. Amanhã vou p'rá rua e vou passar factura.


está à frente dos teus olhos
em todos os telejornais
está na dor dos teus trabalhos
nas quarenta horas semanais

pergunta‑te porque são
sempre os mesmos no poder
se eles estão lá só por que estão
ou se é assim que tem de ser?

tu contas os tostões
eles contam os milhões
tu não tens para um sapato
e eles comem fois‑gras de pato

porque é que os grandes bancos
foram salvos de imediato
e o teu salário mínimo
está cada vez mais baixo?

será que a corrupção
é um mal da política
ou faz antes parte
da economia parasita?

repara como eles dançam
entre o governo e as empresas
será só coincidência
ou profunda prepotência?

tu contas os tostões
eles contam os milhões
o que te falta ao fim do mês
é o que eles levam à vez

se quem não deve não teme
porque é que eles andam blindados
em carros de alta cilindrada
que custam tanto dinheiro ao estado?

olha esta corja d’engravatados
que anda pilhando Portugal
senhores muito doutorados
na grande miséria social

tu contas os tostões
eles contam os milhões
o que tu pedes emprestado
é o que eles te têm roubado

agora Faro vai receber
uma parada militar
passados trinta e seis anos
não parece isto Salazar?

roubou o Coelho à cidade
tanto que até foi julgado
mesmo assim saiu em liberdade
só porque é homem honrado

o Correia peitudo já canta
por aqui desde 87
só para mostrar que anda
muito bem na biciclete

tu contas os tostões
eles contam os milhões
a liberdade que te foi dada
é a sua propriedade privada

eles querem tudo só p’ra eles
eles gostam muito de comer
para ti ficam os ossos
vais ter muito que roer

e com o programa polixe
vai ficar tudo muito limpinho
que só pra pôr um pé na água
paga mãe e paga o menino

tu contas os tostões
eles contam os milhões
tua vida inteira na corda bamba
e eles pedem-te confiança

o estádio está já ali
o que foi preciso foi tê‑lo feito
e eu digo já aqui
nem tu nem eu tirou proveito

o bigodinho é que se safou
arranjou logo outro tacho
o que o Allgarve tem de bom
eu cá não vejo nem acho

o teatro é mesmo bonito
trás cá umas grandes peças
então e nós que fazemos aqui
à tantos anos nesta terra?

tu contas os tostões
eles contam os milhões
tu de corda ao pescoço
e eles contentes no baloiço

a mim dói-me o coração
todos os dias quando acordo
porque nunca há‑de ter perdão
a mentira neste mundo

vem p’rá rua põe‑te louco
antes maluco do que sacana
há que partir tudo e não é pouco
na minha vida sou eu quem manda!