sexta-feira, 12 de abril de 2013

REGRESSO (3)




A casa onde vivi até 1993 estava mesmo ao lado desta, que era do ti Toine, irmão do meu pai, que também já morreu. Quando a mandámos a baixo estava pouco melhor do que esta está agora. Se chovia muito, a água que vinha do telhado reflectia na duna encharcada e escorria por inúmeras frestas na parede, já meio engolida pela areia. A cozinha inundava. Tínhamos que levantar os ladrilhos e espetar os ferros das canas de pesca na areia e esperar que a água seguisse o seu curso. Em 93 ajudei o meu pai, e os bons homens que o ajudaram a ele, a levantar a casa em que hoje vivo, sobre o sítio da antiga, que foi trazida para aqui pelo meu avó, quando em meados dos anos 60, para arranjar espaço para os veraneantes das cidades, a maior parte dos pescadores aqui da praia foi forçada a ir viver para as extremidades, onde hoje o alcatrão não chega. Mais ou menos por essa altura, foi definido o que é domínio camarário e o que é domínio público marítimo. É por isso que todos nós que vivemos onde o alcatrão não chega somos, oficialmente, considerados clandestinos. Mesmo com as casas registadas nas finanças.

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