sábado, 8 de junho de 2013

mal passado, e é só nervo e gordura


esta paisagem é o sangue nas veias da multidão
um enlouquecer sem saber que se enlouquece
um dormir sem sono um estar sem ser um desejo
no vácuo silêncio de horas infindas e perturbadas
uma demora uma espera um não alcançar nunca
uma resignação dolorosa mas que não dói
porque as coisas que doem são quedas e mãos cortadas
acidentes nas estradas e mulheres violadas nas esquinas

a fome já não dói porque é assim de tempos em tempos
as pessoas têm que saber qual é o seu devido lugar
o euromilhões faz excêntricos mas não faz rotchildes
porque só os rotchildes é que fazem rotchildes
e só os cavacos é que dão bailes em belém

a culpa da fome é dos burros e dos parvos sem poder de compra
dessa gentinha que pediu demasiado aos bancos
desses ignorantes que nem 100 euros fazem a vender pipocas
desses putos cheios de merda na cabeça
que não são capazes de vender a sua juventude
bergessos desde tenra idade que não torcem o pepino
a quem falta o berço na linha do estoril

seus brutos incapazes de plantar uma alface
energúmenos impotentes que nem sequer uma empresa criam
ou andam todos à mama do fundo de desemprego ou querem
todos trabalhar ao mesmo tempo e é por isso que não há trabalho

deves de andar a gozar com isto meu classe média baixa de merda
tanta gente empreendedora a injectar dinheiro nos bancos
e tu não largas o conforto dos teus 485 euros
andas a vender pregos ferrugentos nas feiras de velharias
enquanto podias estar limpar latrinas em frança
andas a plantar batatas ao lado do ic19
enquanto podias trabalhar na construção civil em angola

andas andas mas não fazes a ponta dum corno
fazes greve na cp que é p’rós outros não irem trabalhar
egoísta que és só contribuis para a queda das exportações
até foste ao bruxo de fafe fazer uma mezinha p’ra que não chova
só porque há falta de causas naturais
és capaz de não incluir no irs a farmácia toda
mas nunca foste fazer um ppr na holanda

andas é a fazer que dormes na sombra
tu é que a sabes toda
os cérebros fartam-se com fugir para o estrangeiro
e tu deixas-te ficar para trocar os números do primeiro trimestre
e depois o ministro é que fez mal as contas no excel
e ainda apresentas uma queixa na deco contra a microsoft

tu só queres é empatar estes entes caridosos
que mesmo em tempos de dificuldade
têm sempre a graça de te atirar um osso

sexta-feira, 7 de junho de 2013

SE O PASSOS É O PAI, O PORTAS É A MÃE


SÃO OS DOIS DO "MESMO SEXO", E SOBRE ISSO NINGUÉM FEZ LEI NENHUMA.

Slavoj Zizek

Tomemos aquele que é considerado o seu exemplo supremo: o cristianismo. Como se tornou este a ideologia dominante? A verdade é que o fez incorporando uma série de motivos e de aspirações próprios dos oprimidos (a verdade está do lado daqueles que sofrem e são humilhados, o poder corrompe...), para os rearticular de tal maneira que se tornam compatíveis com as relações de dominação existentes. E o mesmo se passa no caso do fascismo. A contradição ideológica fundamental do fascismo é a que existe entre o organicismo e o mecanicismo: entre a visão corporativa-organicista estetizada do corpo social e a «tecnologização», a mobilização, a destruição e o extermínio radicais dos últimos vestígios de comunidades  «orgânicas» (famílias, universidades, tradições de autonomia locais) ao nível das «micro-práticas» reais do exercício do poder.
(...)
Para o dizermos por outras palavras ainda: em todo o verdadeiro fascismo, encontramos sempre elementos que nos fazem dizer que «não se trata ainda de um fascismo total, que exixtem ainda nele elementos contraditórios provenientes de tradições de esquerda ou do liberalismo»; todavia, este afastamento, esta distância diante do fantasmo do «puro» fascismo é o fascismo "propriamente dito".


Elogio da Intolerância (p.29-30), Slavoj Zizek, tradução de Miguel Serras Pereira, Relógio D'Água editores, 2006 

quinta-feira, 6 de junho de 2013

QUAL PASSOS QUAL CAVACO, MAIS DO QUE ISSO TENHO EU DENTRO DO BOLSO


"NÃO SE PODE FALAR DE UMA IDEOLOGIA DENTRO DO REGIME

CHICO BUARQUE, "O MALANDRO"


PEIXE P'A FRITAR (QUE OU É PEQUENO OU ESTÁ MAGRO)

sou um malandro sou
eu que o digo sou
defensor de uma certa preguiça
sem dúvida mau empreendedor
sou carne feita p’ra queimar
disposto que estou a coisas execráveis
ténues são os limites
da minha civilidade

sou o que gosto de pensar que sou
a teimosia irónica que refreia
o asqueroso bafo do poder

sou aquilo que sei que
entre a escória
a vergonha vos há‑de lembrar


***

acredito que as pessoas voam
mas isso é tudo dentro
dos aviões

os gatos passeiam espinhas
o focinho do cão convive
branco felizmente

um pé d’alecrim pegou
uns tomates amadureceram
há coisas que vejo que são

mas outras porra se as há
que nenhum cabrão me convence a comprar


***


“Que queres fazer quando fores
grande ò menino?”

nada
não quero ser nada desde pequenino

há 32 anos que o meu coração bate
é isso que sou
sem parar