sexta-feira, 7 de junho de 2013

Slavoj Zizek

Tomemos aquele que é considerado o seu exemplo supremo: o cristianismo. Como se tornou este a ideologia dominante? A verdade é que o fez incorporando uma série de motivos e de aspirações próprios dos oprimidos (a verdade está do lado daqueles que sofrem e são humilhados, o poder corrompe...), para os rearticular de tal maneira que se tornam compatíveis com as relações de dominação existentes. E o mesmo se passa no caso do fascismo. A contradição ideológica fundamental do fascismo é a que existe entre o organicismo e o mecanicismo: entre a visão corporativa-organicista estetizada do corpo social e a «tecnologização», a mobilização, a destruição e o extermínio radicais dos últimos vestígios de comunidades  «orgânicas» (famílias, universidades, tradições de autonomia locais) ao nível das «micro-práticas» reais do exercício do poder.
(...)
Para o dizermos por outras palavras ainda: em todo o verdadeiro fascismo, encontramos sempre elementos que nos fazem dizer que «não se trata ainda de um fascismo total, que exixtem ainda nele elementos contraditórios provenientes de tradições de esquerda ou do liberalismo»; todavia, este afastamento, esta distância diante do fantasmo do «puro» fascismo é o fascismo "propriamente dito".


Elogio da Intolerância (p.29-30), Slavoj Zizek, tradução de Miguel Serras Pereira, Relógio D'Água editores, 2006 

Sem comentários:

Enviar um comentário