terça-feira, 22 de abril de 2014

ai ai ai ai





andamos pr’aqui todos indignados todos revoltados
todos virados ao avesso passamos os dias
a chamar nomes à vida não temos tento na língua
insultamos diariamente os ministros sem perdão
através de um contrato com a televisão

andamos pr’aqui a cuspir sangue da boca
ai a subida do nível do mar e a erosão costeira
ai o papa francisco que veio revolucionar a igreja
ai os biliões de produtos tradicionais que se fazem hoje em portugal
ai os pobres dos costumes com salazar não era assim
isto é só gajas descascadas a lamberem iogurtes
todas muito saudáveis no seu sexy triquini

e depois pronto ai ai ai a autoridade
um gajo chama cabrão a um sacana que é cabrão
e lá se vai a liberdade diluída na expressão em forma de publicidade

temos todos um mural pintamos até fartar
o facebook é a retrete do paradigma social
vazio de vasconcelos faz renda em ponto gigante
à frente do pobre põe-se a miséria em forma de elefante

ai ai ai ai não seja tão radical
se a sua vida é uma merda é para o bem nacional

o menino tem que fazer parte de um grupo e achar a sua espiritualidade
que isso de ser poeta é muito pouco empreendedor
veja lá se não quer ser exportado porque neste país
o que não faltam são poetas que sabem trazer a boca fechada

ai ai ai ai que o peixoto ainda se caga tordo
antes de ser abatido batendo uma pívia ao pai
e o viegas levantado da tumba ainda o manda tomar no cu
e assim o menino nunca levará um 8,5 na escala do silva

ai ai ai ai que isso que vai para aí são demasiadas metáforas
e toda a gente sabe que as metáforas são inimigas da realidade
estávamos aqui tão bem sentados no café a contar as gaivotas
com as nossas tesouras tristes a cortar a prosa interna
e o menino vem para aqui falar assim cheio de pretensões
-zinhas

olhe que é importante controlar os sentimentos
nenhum poeta moderno cai na veleidade do momento
você vive longe do centro e só se queixa da sua infelicidade
deve ter uns resquícios de futurismo agarrados às unhas dos pés
um 61 armado escarafunchando na peruca
deve ter aí um aleixo a dar lhe uma comichão qualquer

ai ai ai ai veja lá se não leva uma palmada na mão
até à sua família as drogas causam confusão
veja lá bem com quem o menino quer discutir
é que nós aqui já somos
e nenhuma égua ficou por cobrir

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