sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

TOM ZÉ, "CAMELO"


DESTRUIÇÃO ORGANIZADA DE PAISAGEM

© Luís Forra/Lusa

O Ilhote da Cobra já não existe. Não sei porque lhe chamavam assim. Devo ter algum tio que ainda se lembre. Mesmo para mim, o ilhote sempre me pareceu exótico. Muitas vezes caminhei pelo sapal em redor, e sempre o olhei com espanto. Uma dezena de casas ali, numa escassa areia rodeada de lama e arbustos salinos. De um lado, a Praia de Faro e a Ilha Deserta, e o acesso ao mar. Do outro o entrançado de canais que leva à cidade e à Ilha do Farol.

Para mim, o Ilhote da Cobra, com as suas casas brancas ali plantadas no meio da ria, não era somente parte da paisagem, era também uma espécie de herança anónima, fazia parte de uma memória colectiva. Ali viveram pessoas. Há uma história de vida marítima ligada ao lugar, àquelas casas. O Ilhote da Cobra, não é o Ilhote da Cobra sem as suas casas, sem os seus vestígios humanos. A demolição das casas no Ilhote da Cobra, implica a demolição de um registo cultural. As demolições nas ilhas barreira da Ria Formosa são a evidência física dessa destruição.
Mas nenhuma cultura desaparece sem que outra, emergente, tente se sobrepor. Neste caso concreto, é uma cultura higienista, a da preservação e da renaturalização, que, de tão humana, é perversa. Transporta em si uma razão retrógrada, uma queda para trás de querer ser tão à frente. Esta cultura entende a Ria Formosa sem os seus homens, sem os seus vestígios, uma coisa limpa e estetizada. Vê no acto de subtrair à Ria os seus homens, uma forma de preservar essa experiência cultural, à qual se sobrepõe. Retirar os homens da Ria à Ria, é artificializar a Ria. Será certamente feito um museu, um dia, para acabar de vez com tudo.
O conceito de renaturalização é simplesmente um desastre, uma ofensa gravíssima à minha integridade. Renaturalizar é a práctica camuflada do resort. Mas é também um buraco negro asqueroso desta cultura, que tudo arrasa e devora, rebuscando eternamente os seus disfarces. A renaturalização não implica só demolições, implica também a eliminação de diversas espécies vegetais, trazidas pelo homem, como por exemplo a árvore com mais de 30 anos que tenho aqui à frente de casa. Gostava de saber se têm algum plano de contenção para os melros, que nos últimos anos têm vindo com mais frequência aqui nidificar. E já agora muito boa sorte com a remoção do chorão-das-praias.


Assim como não há uma Ria com homens e outra sem homens, não há um Ilhote da Cobra com casas e outro sem casas. A destruição física do Ilhote da Cobra (resta apenas o lugar higienizado), implica a destruição do seu imaterial. A organização que propõe repor assegura a destruição.
Como disse um amigo meu, “renaturalizar é pôr como estava antigamente”. Mais simples do que isto é difícil. Tentar pôr uma coisa como ela estava antigamente é, fundamentalmente, fascista. Num mundo em mudança veloz e constante, que esforço é este para "pôr coisas como elas estavam antigamente"? E que rara entrega é esta à impossibilidade?

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

WIKIFÓDIA


Características gerais do ultrarromantismo[editar | editar código-fonte]

  • liberdade criativa do humano superior (o conteúdo é mais importante que a forma; são comuns deslizes gramaticais);
  • versificação livre;
  • tédio constante, morbidez, sofrimento, pessimismo, negativismo, satanismo, masoquismo, cinismo, autodegeneração;
  • fuga da realidade(escapismo, evasão);
  • desilusão adolescente;
  • idealização do amor e da mulher;
  • subjetivismo, egocentrismo;
  • saudosismo (saudade da infância e do passado);
  • consciência da solidão;
  • obsessão pela morte: fuga total e definitiva da vida, "solução para os sofrimentos"; sarcasmo, ironia.

Ver também[editar | editar código-fonte]