quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

DIÁRIO DE BORDO



Sem grandes conflitos interiores
e em quase plena fruição desse divino
que faz do vinho um ofício
permite-me álvaro que acrescente
mais sentimentos esdrúxulos
à sua famosa concepção do ridículo

soubesses o que é mudar fraldas
em vez de cartas tinhas escrito
cacas naturalmente

***

chegámos então aqui
tudo verdadeiramente estilhaçado
a expansão fragmentária do universo
e simultaneamente o seu colapso
num rarefeito centro de gravidade
o monólito de kubrick e de clarke
agora sim e finalmente
plantado no quarto

***

nós não parámos
estamos a ajustar um novo tempo
para podermos continuar
esta terra foi lavrada funda

***
estou falto no verbo
confesso que não tenho
corrido muito

***

um homem nunca se afasta
ás vezes tapa os olhos
ás vezes fecha a boca
engole cospe arrecada
os seus humores longe da oração
mas o punho firme e fechado
vai sempre batendo no peito
silenciosamente

demora
mas um dia a pedra cai
e a água sobe toda de repente