A casa onde vivi até 1993 estava
mesmo ao lado desta, que era do ti Toine, irmão do meu pai, que também já
morreu. Quando a mandámos a baixo estava pouco melhor do que esta está agora.
Se chovia muito, a água que vinha do telhado reflectia na duna encharcada e
escorria por inúmeras frestas na parede, já meio engolida pela areia. A cozinha
inundava. Tínhamos que levantar os ladrilhos e espetar os ferros das canas de
pesca na areia e esperar que a água seguisse o seu curso. Em 93 ajudei o meu
pai, e os bons homens que o ajudaram a ele, a levantar a casa em que hoje vivo,
sobre o sítio da antiga, que foi trazida
para aqui pelo meu avó, quando em meados dos anos 60, para arranjar espaço para
os veraneantes das cidades, a maior parte dos pescadores aqui da praia foi
forçada a ir viver para as extremidades, onde hoje o alcatrão não chega. Mais
ou menos por essa altura, foi definido o que é domínio camarário e o que é
domínio público marítimo. É por isso que todos nós que vivemos onde o alcatrão
não chega somos, oficialmente, considerados clandestinos. Mesmo com as casas
registadas nas finanças.
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