fala muito tudo fala fel fuli
o que o país precisa isa iva tiva
esse regresso aos mercados uvas teve-as
meu desgosto este
meu chão pisado
o preço pago a estadia o estádio
o bilhete o ingresso
a escolha o registo
do passado
o sintoma de tanta fúria tão ingrato
o pesadelo a vertigem
a mulher nunca despida
a flor negra que escorre
o sangue demente
edifica o asfalto
ai vida
as tuas horas além da muralha
os nimbos sobre o céu do teu leito
escolhem medonha e madura
a fronha acesa do teu medo
para isto
nascidos para isto
mortos para isto
como num paraíso
a contar as horas que não chovem
a agradável sorte que tantos sonharam
a fome escondida dos pobres
a língua silenciosa da miséria
a caridade vã
dá-me para isto
um inferno de homens não cumpridos
alimenta a natureza vaga das pessoas
a violência pornográfica da ortografia
serve para ampliar a agonia
serve para nos limitar a isto
à perda como um consolo
à fome como estado de transição
ao esvaziamento como um relâmpago
o que estrondosamente fura o coração
porque escolheram isto
aparam as barbas
nunca resvalam lâminas
hão-de me ouvir
porque por isto não me calam
sempre estarei sobre esta areia
a vasculhar as sobras da merda que fizeram
passos que nunca darás
uns colhões do tamanho do meu estado
Sem comentários:
Enviar um comentário