quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ODES






que se fodam
párias protocolos
papagaios de sala
gente muito aprendida
putas frágeis a envelhecer
bogas mal amanhadas
pedantes penteadinhos
que se fodam
com o que houver de limpo
entre a santa mãe religião
e o enxovalho de ser livre
nas grandes leis do mercado
que se fodam
ordinários de merda
ajeitados do cimento
bonecos sem perspectiva
balsas sem salvamento
pessoas muito branquinhas
tão puras tão geniais
que se fodam
onde a cruz lhes for mais fundo
no eterno remorso
do império ardido
do melancólico mesquinho
fodam-se nas lágrimas
condescendentes presunçosos
ministros da ordem do dia
porcelanas escaldadas
mimos d’engraxa o sapato
românticos rebarbados
filhos da grande cornuda
puta mãe de todas
fodam-se nas algibeiras
arrependam-se evangelizem-se
nas estrelas da união
que derruba as fronteiras
para a igualdade
fodam-se todos em geral
a floresta amazónia
o programa espacial
até à terceira geração
fodam-se todos na consciência
casta política
económico–canalha
democratas cabeçudos
fodam-se na urna
atem-se à bandeira
babem-se por ela
lambam tudo o que conseguirem
chupem chupem chupem
engulam até rebentar
e depois condecorem‑se
exemplos de boa raça


ODES, João Bentes, 4 Águas editora, 2012

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