O meu pai chamou Regresso ao barco
porque, após uns poucos anos de trabalho em terra firme, ele próprio regressou,
voltou para o mar. A década de 80 do século passado deve ter sido a última em
que valeu realmente a pena trabalhar, aqui, no mar. Em 91 o meu pai voltou a trabalhar em terra, aqui na
praia, no hotel, mas sem nunca perder o mar de vista. Como diz Raúl Brandão
n’Os Pescadores, o homem só tem um
sistema que funciona na perfeição: o da destruição. Posso dizer que tudo
aquilo que conheço do mar é o fim. O meu pai deixou-me um barco de fibra que
comprou à custa de muitos robalos que apanhamos juntos. Chamou-lhe Regresso II.
Um dia destes também será queimado.
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