quinta-feira, 14 de março de 2013

ARROMBEM-SE ESSES PORTÕES DERRUBEM-SE ESSAS MURALHAS

(para o Pedro Afonso, para o Miguel Godinho)



na sociedade mais desenvolvida de sempre
no tempo da tecnologia mais capaz
nas forjas da indústria mais potente
há pessoas que passam fome
e toneladas de comida são jogadas fora

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

os mais sofisticados da história
os que construíram os prédios mais altos
albergues da mais fétida glória
deixam na fria noite capitalista
alimentados a sopinha caridosa
enrolados em cartões como presentes
milhões de gente que morre
à porta de casas apodrecendo

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

senhores que pregam a paz e a compaixão
supostamente espalham a palavra da bondade
nos seus palácios seculares já têm o cu quadrado
de tão sentados nos seus tronos dourados
abominam perversos na sua castidade

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

a culpa nunca é deste governo
é sempre do outro
é sempre do burro do povo
e esses senhores do parlamento
fazem reuniões à porta fechada
escolhem os mais belos orçamentos
inventam fantásticos investimentos
plantam mais uma fértil estrada
para que passe mais depressa
a miséria que para nós têm guardada

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

depois dos barões da droga
no distante terceiro mundo
temos também barões da banca
louvando o desastre especulativo
existem muitos e gordos sacanas
dizendo que o pobre é preciso
para alimentar o podre do vício
à moda do frankofurto
salsicha no lugar de chouriço

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

bem sentadas no circo democrático
as esquerdas doutoradas
votam contra a maioria
legitimam a grande farsa
piscam o olho à direita
já a pensar nas autárquicas
oposição que se opõe
não serve interesses partidários
oposição que se opõe
não vai p’ra cama com eles
negociar as migalhas

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

esta é a minha justiça
carrego a arma da palavra

arrombem-se esses portões
derrubem-se essas muralhas

2 comentários:

  1. e tantas formas há
    de arrombar portões
    e derrubar muralhas
    a minha justiça monta
    um cavalo de Tróia
    e oferece poesia pirómana
    //
    um abraço, irmão. É isso. Agora é só ampliar a verdade, dar-lhe gás.



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